terça-feira, 23 de maio de 2017

Desautomatizar por Matisse


   Eu não sei exatamente o que acontece, no entanto a experiência pode ser meramente descrita dessa forma: Um dia qualquer somos surpreendidos com algum quadro. Isto é, segue a vida: acordar, café da manhã, trabalho, almoço, trabalho, redes sociais, perceber que está esfomeada, convívio social etc. Porém, de vez em quando, entre uma coisa ou outra, o coração parece que para de bater por causa de uma pintura. A imagem entra nos olhos, o desenho, as cores, o que ela simboliza ou o que pode simbolizar, a lembrança de um conhecimento que se tem, porém está guardado de tal forma que ele até mesmo parecia esquecido.

   Uma professora dizia que a Arte serve para desautomatizar e periodicamente eu vou confirmando isso na minha humilde experiência. Existem esses momentos que tudo fica suspenso como no cinema, quando todos ficam congelados e apenas um personagem se mexe na cena. Neste caso, o único a se mexer é o quadro, que de algum modo age sobre seu admirador. E o ser vivo sai modificado dessa experiência para o resto de sua vida.

   No livro O Pintassilgo, de Donna Tartt, as páginas finais saem da narrativa e viram um manifesto de amor aos quadros, quando o narrador diz, com palavras muito mais delicadas e eficientes, que um quadro do século XVII pode ser tão poderoso e mágico porque ele guarda uma mensagem a qual um indivíduo do século XXI pode captá-la e então se fascinar pela pintura. Passaram-se quatro séculos entre eles, mas a emoção sobressai viva.

   Hoje me lembrei do final delicado (e sem spoiler) desse livro lido no ano passado porque numa checada rápida no Instagram me deparei com esse quadro:

    The Pink Studio, Henri Matisse (1911)

   Leiga que sou não posso afirmar nada sobre ele, ao não ser que ele me fez lembrar das vanguardas europeias, do fauvismo, do estilo do Matisse. Mas nada do que eu quero expressar tem a ver com isso: tem a ver com essas cores, com essa harmonia que dá vontade de entrar ali e sentir esse espaço. Particularmente eu já gosto muito de quadros de estúdios, mas esse eu quero ter na minha parede e espiar todos os dias antes de dormir. 



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