quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Notas para o agora


A quantidade de tempo na vida que passamos pensando sobre algo é muito maior do tempo que passamos realmente entendendo alguma coisa dela. E na maioria das vezes, sabe-se a resposta, mas a refutamos.

Sempre me perguntei como seria envelhecer. Sempre me imagino no futuro, que tipo de velhinha serei, quais roupas usarei, se estarei enfim com as imensas estantes de livros ou se eles ainda estarão amontoados numa sapateira que por necessidade virou biblioteca.

Esse ano entendi que envelhecer, ou, sentir-me adulta, não é sobre rugas, cabelo branco, nervo ciático e não saber mexer no Windows sem menu Iniciar. Envelhecer é sobre sentir. Há alguns anos o mundo era o que continua a ser hoje: pequenas e grandes vitórias, pequenas e grandes derrotas. A diferença é que se lia algo, recebia notícias, ouvia as fofocas e bastava tomar uma xícara de café, comer um pedaço de bolo, ou, se era sábado, um tanto de vinho. No dia seguinte, era vida que seguia. Hoje, ouvem-se as notícias, conversamos com os familiares, tomamos conta do que é viver com todas as fragilidades pessoais, e ainda há  que se mostrar lá fora. Sem descanso, dar a cara ao sol. Percebi que não há café, não há sobremesa ou vinho. No dia seguinte, não passa, acumula-se.

O ato de envelhecer está ligado com o dom de se sensibilizar e não se recuperar tão rápido como antes. Todas as notícias e acontecimentos nos atinge de forma diferente agora. No dia seguinte, as emoções não zeram, elas acumulam. Pode parecer negativo, porque pode soar acúmulo de sofrimento. No entanto, isso também pode ser humanizar-se, compreender que a vida não é uma equação exata de emoções.


Luigi Ghirri, 1987

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